Resultados de eficácia
TachoSil® foi bem avaliado em vários estudos clínicos como suporte à hemostasia em diferentes tipos de cirurgia, principalmente em órgãos parenquimatosos. A hemostasia e a selagem tecidual induzida por selantes de fibrina seguem essencialmente o mesmo mecanismo biológico, ou seja, a formação de uma rede estável de fibrina na superfície com sangramento ou perda de fluidos. Apesar da dificuldade metodológica para sua execução, as atividades hemostática e selante do produto, foram bem estudadas e demonstradas em estudos comparativos.
Cirurgia hepática:um estudo fase III aberto, randomizado, prospectivo, multicêntrico, em grupos paralelos (estudo TC-014-IN)1, comparou a eficácia hemostática e segurança de TachoSil® versuso feixe de argônio. Participaram do estudo 121 pacientes hospitalizados e submetidos à ressecção eletiva do fígado por qualquer razão médica, principalmente doenças hepáticas malignas. Ocorrência de hemorragia leve ou moderada persistente após intervenção hemostática cirúrgica primária foi constatada antes da randomização do paciente para o tratamento com TachoSil® (n=59) ou com feixe de argônio (n=62). Embora os pacientes elegíveis ao tratamento apresentassem características semelhantes, observou-se que a área de ferida alvo era ligeiramente maior no grupo tratado com TachoSil® (média: 84 cm2) do que no grupo tratado com feixe de argônio (média: 65 cm2). O desfecho primário, ou seja, o tempo de hemostasia, revelou uma diferença altamente significante a favor de TachoSil® (p=0,0007). O tempo médio de hemostasia foi 3,9 min [mediana 3,0 (3-20min)] para TachoSil® e 6,3 min [mediana 4,0 (3-39min)] para o feixe de argônio. Análise paramétrica de suporte forneceu variação estimada do TachoSil® relativa ao feixe de argônio de 0,38 (95% CI: 0,22-0,68, p=0,0009), demonstrando assim que TachoSil® obteve hemostasia em 38% do tempo requerido pelo feixe de argônio. Nenhuma diferença entre os dois grupos de tratamento foi encontrada quanto às variáveis de desfecho secundário, que incluíram a proporção de pacientes com hemostasia 10 minutos após o início do tratamento teste e o volume de drenagem de fluidos nos dias 1 e 2 após a cirurgia. A concentração de hemoglobina do fluido de drenagem foi significantemente menor no grupo tratado com TachoSil® do que no grupo tratado com feixe de argônio 48 h após a cirurgia (p=0,012), mas não apresentou significância estatística após 24 h. No grupo feixe de argônio, a duração média da drenagem foi significantemente menor do que no grupo TachoSil® (p=0,005). Os drenos foram removidos após 5,7 dias [mediana 5,1 dias (2-15 dias)] para o grupo tratado com feixe de argônio e 8,2 dias [mediana 6,0 dias (2- 27 dias)] para o grupo tratado com TachoSil®. É possível que o fato dos indivíduos tratados com TachoSil® apresentarem maior área de ferida cirúrgica, em comparação aos pacientes do grupo do feixe de argônio, tenha contribuído para um maior tempo de drenagem. Frilling e cols.2publicaram o estudo TC-014-IN. Resultados semelhantes foram reportados por Broelsch e cols.3 Na avaliação da propriedade selante de TachoSil®, Frena e Martin4verificaram a não ocorrência de fístulas após o uso rotineiro de TachoSil® em ressecção hepática eletiva. Anteriormente ao uso do produto, relataram a ocorrência destas em 3,9% dos casos com a ressecção eletiva e 5,1% com os procedimentos padrões. Toti e cols.5 também demonstraram com sucesso o benefício da propriedade selante do produto versuscola de fibrina em 16 pacientes submetidos a transplante hepático. Apenas 1 dos 16 pacientes que utilizaram TachoSil® apresentaram drenagem biliar comparado a 7 dos 16 pacientes que utilizaram a cola de fibrina.
Cirurgia renal:um estudo aberto, randomizado, prospectivo, multicêntrico, em grupos paralelos (TC-015-IN)6comparou a eficácia e segurança do TachoSil® versustratamento cirúrgico padrão em 185 pacientes submetidos à ressecção cirúrgica de tumor renal superficial. Após hemostasia primária, os pacientes eram randomizados para tratamento com TachoSil® ou para técnica de sutura padrão. O desfecho primário foi testar a eficácia hemostática (tempo intraoperatório para hemostasia) e a segurança de TachoSil® em comparação à sutura padrão. Os desfechos secundários incluíram a proporção de pacientes com hemostasia após 10 min de tratamento, ocorrência de hematoma no dia 2 após a cirurgia, descrição do volume e da concentração de hemoglobina no líquido de drenagem pós-operatória e a classificação do cirurgião quanto à utilidade do tratamento testado e a ocorrência de hematoma no dia 2 após a cirurgia. Segurança foi avaliada pela ocorrência de eventos adversos. Os resultados do estudo mostraram diferenças significantes a favor de TachoSil® nos objetivosde eficácia primária (i.e. tempo para a hemostasia): tempo médio 5,3 min e mediana 3,0 min para o grupo TachoSil® e tempo médio 9,5 min e mediana 8,0 min para o grupo submetido a técnica de sutura padrão (p < 0,0001). O número (porcentagem) de pacientes com hemostasia antes ou aos 10 min foi 84 (92%) para o grupo TachoSil® e 62 (67%) para o grupo com tratamento padrão (p < 0,0001). Para o grupo TachoSil®, a proporção de pacientes com hemostasia após 10 minutos do tratamento foi 7 (8%) e 30 (33%) para o grupo com tratamento padrão. Os outros objetivossecundários não revelaram diferenças entre os grupos. Os resultados mostraram claramente a eficácia hemostática de TachoSil® para as variáveis primárias de eficácia em relação ao tratamento padrão seguido de hemostasia secundária em cirurgia renal. Siemer e cols.7e Van Poppel e cols.8 publicaram esses resultados. Laitsikos e Stolzenburg9utilizaram TachoSil® em complemento ao campleamento em prostatectomia radical por via endoscópica.
Cirurgia torácica:um estudo fase IIIb, aberto, randomizado, prospectivo multicentrico (TC -021-IM)10 comparou TachoSil® ao tratamento cirúrgico padrão para avaliar a eficácia no controle de escape de ar (grau I e II) e segurança do produto em lobectomia pulmonar com linfadenectomia intrapulmonar em indivíduos com neoplasia. Foram randomizados 301 pacientes: população de intenção de tratar (intention-to-treat) (ITT) = 299 e população per protocol(PP) = 273. A duração de escape de ar pós operatório após provocação por tosse (desfecho primário) exibiu uma diferença significante entre os tratamentos na população ITT, com um período mais curto de escape de ar para TachoSil® comparado aos dos pacientes com o tratamento padrão (p=0,030). A porcentagem de pacientes sem escape de ar foi mais alta no grupo TachoSil® em todos os momentos. A mediana do tempo estimado para cessar o escape de ar foi 15,3 h para o grupo TachoSil® e 20,5 h para o grupo sob tratamento padrão. Para a população PP, o grupo tratado com TachoSil® também apresentou uma menor duração de escape de ar no pós operatório (p=0,006). A mediana do tempo estimado para cessar o escape de ar foi 11,8 h para o grupo TachoSil® e 17,7 h para o grupo submetidos ao tratamento padrão. A eficácia de TachoSil® na selagem intraoperatória de ar foi demonstrada através do desfecho secundário, redução de escape intraoperatório de ar desde o primeiro (antes da randomização) até o segundo teste de submersão. Dos pacientes que receberam TachoSil®, 71% conseguiram redução de um ou dois graus comparados aos 62% dos pacientes submetidos ao tratamento padrão (p=0,042), indicando um efeito selante imediato superior de TachoSil®. Na avaliação comparativa de segurança os eventos adversos mais frequentes foram pneumonia (10 no grupo TachoSil®/10 no grupo submetido ao tratamento padrão), atelectasia (7/10), fibrilação atrial (11/5), constipação (5/9), fistula broncopleural (4/10), flatulência (2/7), pirexia (6/3), pneumotórax (4/5), derrame pleural (5/2) e anemia (3/4), que são complicações passíveis de ocorrência em procedimentos cirúrgicos em pacientes com câncer. Não houve diferenças significativas na distribuição desses eventos adversos entre os dois tratamentos propostos. Vários pesquisadores11-14 reportaram eficácia selante do TachoSil em comparação com técnicas cirúrgicas padrões, com menor tempo para a selagem da passagem de ar, após ressecção pulmonar (lobectomia/segmentectomia). Anegg e cols.11 estudaram 173 pacientes submetidos à ressecção pulmonar e reportaram que TachoSil® demonstrou, quando comparado aos procedimentos padrão, uma maior tendência para reduzir a incidência pós-operatória de escape de ar tanto no segundo como após o sétimo dia pós-operatório (30,7% vs 38,96% e 24% VS 32,46%, respectivamente), além de um menor tempo médio para a retirada do dreno torácico e alta hospitalar (p=0,022 ep=0,01, respectivamente). A perda do ar intraoperatória pós-tratamento com TachoSil® foi significantemente mais baixa (média 153,32 ml/min, variando de 10 a 450 ml/min) do que com o tratamento padrão (média 251,04 ml/min, variando de 15 a 970 ml/min; p=0,009). Resultados semelhantes foram reportados por Droghetti e cols.15 durante avaliação de 40 pacientes submetidos à lobectomia pulmonar. Foi observada redução da perda de ar com o uso de TachoSil® em comparação às técnicas padrão, considerando o grupo globalmente, (50% vs95%, respectivamente, p=0,0001), na duração das perdas de ar (1,7 dias vs4,5 dias, P=0,003) e nos custos dos procedimentos (p=0,0001).
Cirurgia cardiovascular: um estudo randomizado, aberto, de grupos paralelos, multicêntrico comparou a eficácia e a segurança de TachoSil® a do tratamento hemostático padrão na cirurgia cardiovascular (estudo TC-023-IM)16. Foram elegíveis os pacientes com cirurgia planejada sobre o coração, a aorta ascendente ou o arco aórtico, requerendo um procedimento de derivação (bypass) cardiopulmonar. O tratamento hemostático primário foi sutura, clipagem, eletrocoagulação ou nenhum (baseado na prática cirúrgica). Foram randomizados 120 pacientes que apresentavam presença de sangramento do músculo cardíaco, do pericárdio, de um vaso grande ou leito vascular e necessitavam tratamento hemostático de suporte (n=120). A população ITT foi de 119 e a população PP foi de 111 (na população PP, foi analisado somente o desfecho primário). Os tratamentos randomizados foram TachoSil® ou qualquer material espongiforme hemostático sem compostos adicionais estimulantes ativos da coagulação. O desfecho primário/secundário de eficácia foi a proporção de pacientes que conseguiram hemostasia após 3 min/6min (ITT). Outras variáveis observadas foram: duração de drenagem, volume de drenagem pós-operatória, transfusões pós-operatórias.
O resultado do desfecho primário de eficácia, ou seja, a proporção (IC 95%) de pacientes com hemostasia em 3 minutos, foi de 0,75 (0,64 - 0,86) para TachoSil® e de 0,35 (0,22 - 0,48) para o tratamento padrão (p < 0,0001). O desfecho secundário, isto é, a proporção (IC 95%) de pacientes com hemostasia em 6 minutos, foi de 0,95 (0,89 - 1,0) para o TachoSil® e de 0,72 (0,60 - 0,83) para o tratamento padrão (p=0,0006). Não houve evidência de heterogeneidade nas razões de probabilidades entre os centros de estudo.
Os resultados altamente significantes em favor do TachoSil® em relação à obtenção de hemostasia no estudo cardiovascular (TC-023-IM) indicam fortemente que o efeito combinado de forte aderência do coágulo de fibrina depositado sobre o sítio de aplicação e de suporte mecânico da esponja de colágeno e da rede de fibrina do coágulo foram capazes de selar contra o extravazamento de sangue dos orifícios da sutura e dos sítios anastomóticos nas grandes artérias, bem como do sangramento capilar do músculo cardíaco. Mais da metade dos sangramentos tratados no estudo TC-023-IM ocorreram a partir da aorta (56% dos casos), isto é, em estruturas vasculares com a pressão sanguínea mais elevada. Além disso, observa-se que TachoSil® manteve uma boa eficácia hemostática também quando aplicado em pacientes antes da reversão com protamina, assim demonstrando as propriedades selantes e hemostáticas independentes da capacidade de coagulação do sangue. Da mesma forma, deve-se mencionar que um número razoável de procedimentos cirúrgicos incluídos no estudo TC-023-IM era de procedimentos combinados ou complexos, ou seja, envolvendo dois ou mais procedimentos cardiovasculares que necessitam de período prolongado de circulação de derivação extracorpórea. A proporção mais alta de pacientes necessitando de procedimentos combinados/ complexos no grupo randomizado de pacientes vs.no grupo de pacientes selecionados (61% vs.40%) no estudo TC-023-IM também indica a necessidade de um tratamento hemostático de suporte em função de um elevado risco de sangramento nos procedimentos cirúrgicos complexos. O estudo TC-023-IM foi publicado por Maisano e cols17.
Onoratti e cols.18 avaliaram 29 pacientes submetidos à cirurgia na aorta ascendente com enxerto de Dracon comparando a redução de derrame pericárdico com o uso de TachoSil® (11 pacientes), envolvendo o enxerto em 360 graus e sem TachoSil® (18 pacientes). Nenhum paciente no grupo TachoSil® apresentou derrame pericárdico significante à ecocardiografia pós-operatória, enquanto uma proporção significante de pacientes do grupo sem TachoSil® o fez em algum grau. Na avaliação da drenagem torácica, o grupo tratado com TachoSil® apresentou menor volume de drenagem p=0,0001, menor tempo de drenagem p=0,002, menor necessidade de pericardiocentese p=0,0039, menor volume de derrame pericárdico na avaliação ecocardiográfica pré-alta p=0,026, menor ocorrência de febre p= 0,029, menor necessidade de uso de antibióticos p= 0,007 e permanência hospitalar p=0,01. O envolvimento do enxerto com TachoSil® foi efetivo na redução do derrame pericárdico e dos efeitos deletérios que se seguem à cirurgia da aorta.
O benefício das esponjas hemostáticas foi enfatizado por Aziz e cols.19e Carbon e cols.20Rychlik R21reafirmou, numa revisão sobre o assunto, os benefícios da selagem tissular com este tipo de esponja em cirurgia. Haas S22, relatando os resultados de um estudo multicêntrico que incluiu 408 pacientes submetidos a cirurgias em vários órgãos - fígado (26%), sistema vascular (16%), trato gastrintestinal (10%), coração (8%), rim (7%), tórax (7%), baço (4%) e pâncreas (4%), concluiu que o uso de TachoSil® apresentou benefícios relevantes e que pode oferecer oportunidades para melhorar a hemostasia em pacientes de risco de complicações hemorrágicas, além de facilitar o controle do sangramento excessivo no campo cirúrgico.Tagliabue e col.23 reportam sua experiência pessol com o uso de TachoSil® em esplenectomias e nefretomia.
Do ponto de vista farmacoeconômico, María-Borro e cols.24 e Anegg e cols.25confirmaram uma melhor relação custo-benefício de TachoSil®.
A eficácia clínica em complemento aos procedimentos cirúrgicos em vários sistemas orgânicos indica claramente que TachoSil® pode ser considerado benéfico e de utilidade em uma ampla gama de processos cirúrgicos.
Referências Bibliográficas
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